Concentração em Óbidos

O corneta acordou os soldados Britânicos, às 3 de Manhã do fatídico dia 17. Os homens tinham passado a noite no pinhal a Sul das Caldas da Rainha, enrolados na sua mantas e capotes, deitados abaixo de abrigos sumários feitos dos ramos das árvores – apenas os oficiais é que gozavam do conforto de tendas de campanha. A noite foi fresquinha, provavelmente, como de costume, nas terras do Oeste.

A curta noite foi apreensiva para alguns que, apesar de impacientes de passar à ação e se medir com o inimigo, não podiam deixar de sentir a saudade do lar deles, e a antecipação de uma possível morte no combate.

O grosso do exército tinha pernoitado nas Caldas. Contudo alguns regimentos – desconhece-se os quais- já estavam a ocupar Óbidos e as suas imediações.

Acerca das 6 horas de uma belíssima manhã de verão, com o Sol a subir no céu limpo ainda cor-de-rosa, os 11 000 Britânicos e 2 000 Portugueses iniciaram a sua marcha em direção à Óbidos: um passeio de 7 quilómetros provavelmente pela estrada real – basicamente o traçado da atual EN8 – que uma tropa numerosa pode ter acabado em duas horas.

Estratégia de Wellesley e ordem de batalha dos Aliados

Chegados a Óbidos, o exército Britânico passou a reunir os regimentos e formar-se em ordem de batalha, conforme o plano delineado pelo general em chefe, sir Arthur Wellesley: este tinha decidido de proceder a uma manobra de envolvimento do inimigo, com o grosso das forças flanqueado por colunas à direita como à esquerda.

Mapa da movimento do exército Britânico na 1ª fase do combate da Roliça

A coluna de Direita (Trant e os Portugueses)

A coluna de direita formada exclusivamente por Portugueses, com a exceção do oficial que a comandava (o tenente coronel Nicolas Trant de nacionalidade britânica). Contava cerca de 1200 homens entre Infantaria e Cavalaria. Todos eram Portugueses, mas não são todos os Portugueses que do corpo expedicionário Britânico que participavam na ala direta: outros foram colocados no Centro e outros 50 na ala esquerda.

Aquela coluna devia avançar pelo lado direito da Várzea, ladeando as colinas a Norte-Oeste, passar por Amoreiras, seguir pelo local conhecido hoje como Rego Travesso e dirigir-se para o Pó. A partir de lá, a missão era (segundo Tormenta e Fiéis) apoderar-se de Azambujeira-dos-Carros e cair sobre a retaguarda Francesa.
A várzea ainda não tinha sido drenada e o terreno era bastante arenoso além de contar com pequenas poças de água e alguma vegetação pantanosa.

A coluna de Esquerda (Ferguson)

A coluna de esquerda tinha uma missão dupla, talvez algo ambígua: devia simultaneamente 1) prevenir uma eventual junção das forças francesas do general Loison, que se sabiam suscetíveis de chegar à qualquer altura, vindo do Cercal, e se juntar às forças do general Delaborde, e 2) tornear a posição da Roliça pela esquerda, seja por Capeleira, Usseira, Delgada e Baraçais e atacar os Franceses pelo flanco ou cortá-los o caminho da retirada.
De acordo com este papel contou com quase 5000 homens , pela reunião de duas brigadas, a do Major General general Ferguson e a do Brigadeiro Bowes, ambas comandadas por Ferguson, contando com apoio de 6 peças de artilharia e de um pequeno esquadrão de 40 cavaleiros, entre Britânicos e Portugueses.

A coluna do Centro

No centro avançava o resto do exército, sejam aproximadamente 14 000 soldados. Todos com fardos limpos e equipamentos postos a reluzir ao Sol. Esta força central era ela também composta por três faixas:

  • À esquerda do centro, a brigada do Major General Hill, com 2 400 homens, passando a corta mato na Várzea e pelos pequenos altos isolados entre A-da-Gorda e Roliça, ocupados por enquanto pelos Franceses;
  • No centro, a brigada do Brigadeiro Nightingall, e a brigada do Brigadeiro Craufurd de reserva, acrescida de 1 300 Portugueses, mais a artilharia, o grosso da cavalaria e o Estado Maior geral, seja um total de cerca 5 300 homens. Passavam pela estrada real: Óbidos, A-da-Gorda, São Mamede;
  • À direita do centro, a brigada do Brigadeiro Fane, com 2 000 homens, tinham a missão de desalojar os Franceses ocupando as ladeiras do lado Oriental (um pouco acima do espaço ocupado hoje pala auto-estrada);

Portanto, a estratégia do general Britânico era de avançar contra os Franceses usando uma forca de cinco dentes, metaforicamente.

Instantâneos

Das narrativas contadas nas “Memórias” publicados anos depois por alguns antigos militares Britânicos, percebe-se que o a paragem em Óbidos foi um momento de descanso para os militares: os praças comem umas “buchas” sentados acima das suas mochilas, a recuperação das forças desgastadas contra o chão, os generais passeiam sem aparato nenhum e os oficiais aproveitam uma “cantina” que um Português com sentido do negócio tinha aberto logo atrás da Porta da Vila.

Conta um oficial do Corpo dos Engenheiros, que cumprimentando o jovem e muito elegante Coronel Lake, atirou-se com esta declaração premonitória:

”Pois, Sir! Se tiver de morrer hoje, que seja como um cavalheiro”

– (George Landmann, Recollections of my Military Life, V II, 1834, p. 137-138)

A missão de Delaborde

As ordens de Junot dadas à Delaborde eram de “observar e, se for possível, atrasar o inimigo”. Se tivesse recuado antes dos Britânicos, não cumpria. Portanto, resolveu aceitar o confronto, apesar da desproporção das forças: menos 4 500 Franceses face a perto de 16 000 Luso-Britânicos. E ainda esperava a chegada iminente dos 6 000 homens do general Loison : tinha enviado ao encontro dele destacamentos para o Bombarral Cadaval e o sopé do Monte Junto. Também é possível que Delaborde julgasse que dificilmente podia encontrar um terreno com melhor potencial defensivo que aquela zona logo a Sul da Roliça em que a estrada de Lisboa passava entre colinas um tanto escarpadas.

Tudo deixa a acreditar que este preparou duas linhas de defesa: a primeira na Roliça, a segunda nos altos de Columbeira, entre o Vale das Azenhas e a Estrada Real.